Meu manifesto político

Existem milhares de artigos na internet sobre como o ser humano deveria se relacionar de forma equilibrada com a política, especialmente no contexto democrático em que vivemos.

No círculo cristão, alguns focam no conselho bíblico sobre o assunto, dando clara ênfase em como Jesus Cristo e o apóstolo Paulo, por exemplo, se relacionaram com as autoridades políticas de sua época, enquanto outros buscam sustentar visões mais liberais com base em outras passagens bíblicas. Há, ainda, aqueles que tentam argumentar em campos extremos: ignorar totalmente o assunto ou encontrar um ponto comum com algum viés ideológico e militar com fervor, usando textos bíblicos descontextualizados como trunfo religioso.

Tudo isso sem mencionar textos de autores seculares (isto é, sem relação denominacional religiosa) que, sem qualquer pano de fundo bíblico ou espiritual, embasam seus argumentos nos textos de figuras proeminentes, especialmente do passado, usualmente os fundadores e militantes primordiais da “direita” e da “esquerda”.

Quando, então, chegam-se os tempos de eleição, é como se a querosene, a gasolina e a madeira fossem lançadas num caldeirão já borbulhante e cheio de pimenta, o que pode ser visto com grande acentuação nos últimos anos, graças à internet e suas redes sociais.

O humor atual, diria eu, antes de me atentar ao assunto em si, é dúbio: parte das pessoas está saturada de tanta discussão e quer ir para o extremo da abstinência política, enquanto a outra parte está com os braços cheios de lenha e isqueiro pronta para a guerra.

Os resultados de tamanha abstinência e polarização política, ocorrendo simultaneamente, têm sido catastróficos. Amizades rompidas e famílias briguentas de um lado, ambientes de trabalho politicamente corretos e hipocrisia na igreja do outro. O ponto comum e mais assustador é que, na maioria das vezes, é(são) a(as) mesma(s) pessoa(s).

Se você publica uma notícia de um assunto que (supostamente) apoia alguma figura política? “Você é da direita”. Caso contrário, “é da esquerda”. Ou, ainda, “cristãos não deveriam se relacionar com política”. Em outro momento, se você não externaliza alguma opinião em uma conversa que tangencia questões políticas, você é “de centro” ou “não é patriota” ou, a grande blasfêmia (meu Deus!), é “antidemocrático” – “você deveria ir para a Venezuela” ou “deveria ter vivido na ditadura militar!”.

Palavras como equilíbrio e temperança parecem ter se tornado sinônimos de “centro”, o que é equivocado. Aparentemente, “centro” se tornou sinônimo de dois extremos ainda piores: quem não quer brigar com ninguém ou quem quer aceitar um pouco (ou tudo) dos dois lados. De um ponto de vista político, é o que acontece. De um ponto de vista humano, porém, temperança e equilíbrio me parecem oferecer muito mais que um mero viés político (ou a ausência dele).

Sou de um tempo (nasci em 1990) em que, no Brasil, a verdade presente era que toda a classe política era corrupta e todos sabiam disso. Naquela época – que não faz tanto tempo assim – as escolhas nos candidatos eram pautadas nas promessas de campanha (que nunca eram cumpridas) e parecia existir um aceite (inconsciente) que a corrupção jamais seria vencida. De uns tempos para cá o foco mudou, aparentemente. Projetos de campanha estão em segundo plano e o foco se tornou a ideologia do candidato e seus antecedentes criminais (isto é, corrupção). Soma-se a isso um cansaço da classe política tradicional, e nomes fora deste universo (empresários, por exemplo) se tornaram a salvação de uma nação que não aguenta mais ser explorada econômica e socialmente.

Antes, pessoas eram eleitas para realizar projetos e servir a população, mas falhavam moralmente. Hoje, queremos eleger pessoas moralmente corretas que, eventualmente, vão realizar projetos e servir a população. Ambas as expectativas revelam o nível de desespero e falta de direção do eleitorado brasileiro (e do mundo?).

Desespero porque ambas as expectativas são incompletas. É como tivéssemos que escolher o copo meio cheio ou meio vazio. O copo nunca transborda. Sendo assim, seria preferível matar minha sede parcialmente, na esperança de beber mais um pouco daqui a quatro anos. Depositamos nossa esperança em pessoas que não estão à altura de nossas exigências morais e que, num segundo momento, também não suprem nossas necessidades físicas (economia e saúde). Perdemos, portanto, nossa direção e começamos a ajustar prioridades e compensar nossas esperanças com critérios supostamente diferentes dos originais. É neste momento, porém, que o equilíbrio sai de cena de uma vez por todas e nos vemos em perigosa direção ao extremismo da militância ou da plena desolação.

Talvez pareça que o suposto equilíbrio resida em um copo pela metade, mas não é este o caso. O equilíbrio da sede vem de sua saciedade, isto é, quando a sede é satisfeita. Meio copo não é suficiente para equilibrar as necessidades do corpo; o copo precisa estar cheio. Meu entendimento, portanto, é que não há ser humano ou sistema político por ele elaborado que seja suficiente para atender às nossas expectativas morais e necessidades físicas.

Qual seria este sistema, então? A palavra sistema virou moda porque dá uma ideia imediata de funcionamento e ordem, metodologia, um caminho. O ponto, porém, é que o sistema em si não faz nada, o homem que faz. Sendo assim, depender de um sistema, em última análise, é depender dos homens. E é aqui que a cosmovisão cristã é superior a qualquer sistema elaborado por homens.

Rodei e rodei para apoiar aqueles que defendem uma posição cristã equilibrada sobre política? Num certo sentido, sim. Mas não quero aqui me referir às referências bíblicas diretas acerca da política e da relação do homem com suas autoridades. Digo isto porque não responderia à pergunta do copo meio cheio. A questão é mais essencial, pois ela lida com nossas expectativas de moralidade e de atendimento às nossas necessidades básicas. Ela lida com nossa esperança de viver esta vida de forma melhor, o que nos é garantido na Bíblia.

Apesar de a esperança bíblica ser pautada na segunda volta de Jesus, o coração do homem é satisfeito, biblicamente falando, não por homens em cargos políticos, mas por uma vida transformada por Cristo. É super fácil de escrever, mas superdifícil de viver. Por quê? Porque preferimos colocar os outros (ou nós mesmos) como solução possível para nossos problemas do que colocar Jesus no trono do coração.

Aqui é quando quem não professa a fé cristã começa a desconfiar. Afinal, como a solução de um problema objetivo e tão palpável pode ser sanado por uma figura espiritual e religiosa que não aponta para um sistema de governo? Afinal, Cristo não governou os judeus! Ele veio como Filho de Deus para morrer pelo pecado – “segundo a Bíblia” – e nada teria que ver com nossa satisfação política imediata.

A questão é que Jesus nos chama para Ele, o único que pode encher o copo – apesar de tudo. A Bíblia e, consequentemente, Jesus são diretos em afirmar que este mundo jamais será isento de problemas e aflições (João 16:33). Por quê? Porque os sistemas deste mundo e aqueles que vivem nele são imperfeitos. A palavra mais ignorada da atualidade explica a insuficiência dos sistemas políticos e de seus atores: pecado. Retrógrado? Sim, tanto quanto andar e falar. Mas andar e falar são realidades tão evidentes quanto a realidade do pecado. O pecado da corrupção (roubo) é tão pecado quanto a indiferença e a mentira.

Não seria uma insuficiência dos sistemas políticos atuais a suposta indiferença pelo próximo? O desrespeito em suas variadas formas? A corrida sem limites pela riqueza? Não seriam os políticos imorais? Mentirosos e enganadores? Indignos de nossa confiança? Tudo isto é pecado. O resultado de sistemas elaborados e executados por seres humanos pecadores não poderia ser diferente.

Significa que estamos fadados à infelicidade política nesta Terra? Sim. Por quê? Porque os homens estão fadados ao pecado. Enquanto houver dia e noite, chuva e sol, inverno e verão, tenho certeza de que não haverá nação completamente satisfeita ou político completamente aprovado. A questão é que esta carga não está sobre eleitores e governantes, mas sobre a humanidade.

Uma vez que a humanidade não tem poder sobre o pecado, materializado em sistemas políticos imperfeitos elaborados e executados por seres humanos pecadores, esta jamais se verá em plena felicidade e realização, uma vez que estas dependem de padrões morais inatingíveis ao ser humano caído – pelo menos no que depender de suas forças. Deste ponto de vista, não é de surpreender a loucura em se buscar soluções em candidatos novos e partidos novos, apesar de estes serem reféns do mesmo problema.

Não excluo, vale dizer, nossa responsabilidade cívica de participar das eleições, estudando os candidatos e votando de forma consciente. Creio que isso seja algo óbvio. Mas creio que a esta altura esteja evidente que a solução última para o problema político não reside em alternativas políticas. Reside na restauração do ser humano caído e pecador, ao encontro dos padrões morais estabelecidos por seu Criador.

Sendo assim, proponho aqui que quaisquer comentários, publicações, elogios ou críticas em relação a partidos e, especialmente, candidatos políticos deveriam ser tecidos levando em consideração sua convergência ao padrão moral de Cristo, isto é, sua Lei. Isso torna tudo mais fácil. O padrão é estabelecido e não há mais sistemas humanos imperfeitos. O que passa a existir é a consciência de que não há candidatos messiânicos, mas seres humanos imperfeitos que jamais atenderão às necessidades humanas por sistemas políticos humanos. Neste contexto, uma transformação acontece no coração do eleitor. Isso mesmo, do eleitor. Suas necessidades últimas são supridas pela certeza na justiça divina e no entendimento de que o ser humano imperfeito não pode assumir o lugar de Deus.

As correntes da militância ignorante ou da abstinência desoladora são quebradas pela esperança real de um governo superior. Um governo que cura políticos corruptos, quebra sistemas insuficientes e supre as necessidades dos eleitores desolados. Neste governo superior, existe equilíbrio. Equilíbrio em respeitar o próximo e entender que os seres humanos são imperfeitos, mas que a justiça divina é certa e virá. Equilíbrio em saber que o sol nasce para todos (Mateus 5: 45-46), mas de Deus vêm a recompensa e a vida eterna.

Portanto, a partir de agora, é razoável assumir que defendo o Partido de Cristo, do qual ele é o Presidente. Este partido defende o sistema político chamado Dez Mandamentos, e os seres humanos são seus afiliados – ou melhor, filhos. De vez em quando alguns esquecem e vão, sem querer querendo, para o Partido do Tinhoso. Alguns afiliados tentam vender que a solução está no Sistema Mundano (que tem vários nomes por aí), e eles são muito bons de campanha. Eles têm ganhado as eleições nesta Terra, mas não ganharão as eleições na minha mente e no meu coração. Prefiro o Messias verdadeiro, o real companheiro, o meu Jesus.

Jônatas Duarte Lima