Resenha | “Darwin no Banco dos Réus”, de Phillip E. Johnson

"O evolucionismo não se apóia em fatos. Sua base é a fé no naturalismo filosófico"
“O evolucionismo não se apóia em fatos. Sua base é a fé no naturalismo filosófico.”

Até 1991, a teoria da evolução (TE) triunfava nos meios acadêmicos e midiáticos sob o status de “verdade científica absoluta”, então Phillip E. Johnson publicou “Darwin no Banco dos Réus”. A partir de então, a academia, diferentemente da mídia (catequizada, em parte, pelos sacerdotes do naturalismo científico das décadas passadas, como Carl Sagan), tem assistido o crescente desafio proposto aos mais de 150 anos de ditadura darwinista, na qual, sob o escudo do suposto “exercício da ciência empírica” tem, na verdade, temperado a metodologia científica original com altas doses de filosofia naturalista (para não dizer overdose) através da qual sua cosmovisão das origens do Universo e da vida está alicerçada.

Johnson (1940 –  ) é graduado em Harvard e na Universidade de Chicago. Foi oficial de direito do presidente do Supremo Tribunal Earl Warren e ensinou por mais de trinta anos na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde é professor emérito de Direito. A proposta de seu livro, na página 20:

“Abordo o debate criação-evolução não como um cientista, mas como um professor de jurisprudência, o que significa, entre outras coisas, que sei algo sobre os modos como as palavras são empregadas em argumentações. O que primeiro atraiu a minha atenção para a pergunta foi a maneira como as regras de argumentação pareciam ter sido estruturadas a fim de tornar impossível questionar se o que estamos sendo informados sobre a evolução é de fato verdadeiro.”

A leitura é densa; parte pela linguagem do autor (muito bem reproduzida pelo tradutor para o português, Dr. Enézio E. de Almeida Filho), parte pela argumentação em si, que dispõe, ao longo da obra, da análise das argumentações científicas e filosóficas que permeiam a TE. Outro aspecto da obra, no que tange a sua abordagem, é o exposto em Epílogo, capítulo que o autor dedica às tréplicas aos críticos do livro e outros esclarecimentos (publicado na segunda edição, de 1993, traduzida para o português em 2008). Na página 157:

“Uma coisa que não estou fazendo é tomar posições num conflito Bíblia versus Ciência. Estou interessado no que a investigação científica sem preconceito tem a nos dizer sobre a história da vida, e em particular sobre como os órgãos enormemente complexos de plantas e animais passaram a existir.[…] O argumento de Darwin no Banco dos Réus é que sabemos muito menos do que tem sido afirmado. Em particular, não sabemos como os sistemas de órgãos imensamente complexos de plantas e animais puderam ter sido criados por processos naturais inconscientes e sem propósito, como os darwinistas dizem que eles devem ter sido criados. A teoria darwinista atribui a complexidade biológica à acumulação de micromutações adaptativas pela seleção natural, mas o poder criativo desse mecanismo hipotético nunca foi demonstrado, e a evidência fóssil é inconsistente com a afirmação de que a criação biológica ocorreu daquela maneira. A parte filosoficamente importante da teoria darwinista – seu mecanismo para criar coisas complexas não existia antes – não faz, portanto, parte da ciência empírica de modo algum, mas antes é uma dedução filosófica naturalista. Resumindo, o que me torna um ‘crítico da evolução’ é que faço distinção entre a filosofia naturalista e a ciência empírica, e me oponho à primeira quando ela vem travestida na autoridade da segunda.”

A citação anterior exemplifica características interessantes do livro e do seu autor. Do autor por que, em determinados momentos, Johnson mostra uma didática interessante, ao se utilizar de resumos precisos. Do livro por que a citação aponta, de maneira muito resumida, parte da argumentação científica apresentada nos capítulos 3 a 8, nos quais o autor, utilizando-se de suas habilidades jurídicas, lógicas e da fartura de citações e dados disponíveis (sobretudo pelos próprios darwinistas) demonstra a total falseabilidade científica da TE, isto é, que há evidências que, sem um possível viés filosófico, já haveriam de ter invalidado a teoria há tempos. O caráter deletério das mutações, o registro fóssil e a evidência molecular são mais que suficientes, do ponto de vista científico, para inviabilizar a crença na evolução. Um argumento interessante neste sentido está na resposta que Johnson dá à afirmação de Stephen Jay Gould, de que a teoria da evolução estaria no mesmo nível da lei da gravidade, em matéria de comprovação teórica. Na página 73:

“A analogia é espúria. Observamos diretamente que as maçãs caem quando são lançadas, mas não observamos um ancestral comum para os símios e humanos modernos. O que observamos é que os símios são física e bioquimicamente mais parecidos um com outro do que são com coelhos, cobras ou árvores. O ancestral comum tipo símio é uma hipótese numa teoria, que afirma explicar como essas semelhanças maiores e menores surgiram.”

O arcabouço filosófico da TE, em que alicerces (i)lógicos e retóricos são os responsáveis pela manutenção das hipóteses da teoria, está aquém do real exercício científico; para a gravidade, diferentemente, o que não falta é a evidência matemático-experimental. Se na prática a formulação de hipóteses, ainda que estimuladas por asserções metafísicas, requerem a assimilação de possibilidades evidenciais (no caso da TE, o registro fóssil, por exemplo), a comparação da gravidade com a TE é, realmente, no mínimo espúria. A gravidade, ainda que tenha passado por uma enorme reformulação teórica, sua comprovação enquanto lei física já havia sido obtida via a simples observação (nada simples para a TE), o cálculo diferencial e integral, ensaios intra e extra laboratório, entre outros. Uma resposta típica seria, dentre outras, o uso da seleção natural como uma tautologia do “resolve tudo”. O status quase divino da seleção natural, que é onisciente, onipresente e onipotente (esta última, com certeza não), já foi percebido até mesmo pelos darwinistas mais honestos.

Os capítulos 9 a 12 formam o ápice da obra, pelo menos quanto à explicação do cenário a que estamos acostumados a enfrentar na academia, mídia e escolas. O resumo da pesada argumentação de Johnson, é o comprometimento da comunidade científica a priori com o naturalismo filosófico, antes mesmo de entrar no laboratório. Processo este que é antecipado uma vez que este monopólio filosófico é estendido às revistas e jornais, científicos ou não. A consequência última é a formação de uma religião darwinista sob a bandeira da ciência. Como o autor bem disse, “a religião naturalista, que busca na ciência seu quadro da realidade, é uma maneira de controlar as forças irracionais por propósitos racionais”.

As implicações derradeiras, portanto, do comprometimento com o naturalismo é que este é, em última análise, ateu. Sendo assim, a conciliação da TE com uma filosofia teísta é insustentável. Na página 131, o autor salienta:

“A evolução teísta não é fácil de definir, mas envolve fazer um esforço em afirmar que o mundo natural é governado por Deus enquanto evita discordar com o establishment darwinista em questões científicas.”

Nas últimas três páginas, a polarização entre o ateísmo naturalista e o teísmo fica ainda mais nítida. Nas páginas 168 e 169:

“Deveriam os teístas (cristãos e outros fiéis) tentar competir com os naturalistas científicos na tarefa de descrever a realidade, ou eles deveriam aceitar tacitamente o quadro naturalista e tentar encontrar um lugar seguro dentro dele? […] Tais pessoas devem estar desejosas em desafiar as falsas doutrinas, não na base do preconceito ou cega adesão à tradição, mas com argumentos bem nítidos e racionais. Elas também precisam trabalhar num entendimento positivo da visão teísta da realidade, uma que permita à ciência natural descobrir seu devido lugar como uma parte importante, mas não totalmente importante da vida da mente. […] Se a compreensão naturalista da realidade for verdadeiramente correta e completa, então Deus terá de se retirar por completo do cosmos. Não acho que o risco seja muito grande, mas, de qualquer maneira, não acho que os teístas deveriam enfrenta-lo com uma rendição antecipada.”

“Darwin no Banco dos Réus” é um marco para a ciência e filosofia modernas uma vez que as confrontou quando ninguém percebia ou gostaria. Apesar da mídia geral ainda louvar as insuficientes “provas” da TE, a comunidade científica, de 1991 para cá, tem enfrentado uma das maiores provas (estas sim reais) da falseabilidade de uma teoria que, outrora rainha, vê-se hoje “ameaçada” por cientistas relutantes em aceitar uma ciência apoiada em uma cosmovisão que é insustentável e que a própria evidência científica tem rejeitado. Darwin, uma teólogo, deu asas ao naturalismo científico em uma era de poucas evidências e muitas promessas para a TE; a solução foi dar uma série de cheques pré-datados para as gerações vindouras de cientistas e seus grandes avanços tecnológicos que, em tese, confirmariam a TE. Phillip E. Johnson, um advogado, tratou de apresentar os cheques pré-datados de Darwin: todos sem fundos. Culpado.

Jônatas Duarte Lima

Confira o vídeo abaixo em que cientistas (inclusive brasileiros) mostram por que não acreditam na TE, cientificamente falando.

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