[Segue abaixo trecho da matéria de capa da revista Época desta semana, 18/01/15. Considerações ao final e os grifos são meus.]
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Compre experiências e não coisas
Novas pesquisas mostram que investir em viagens, jantares e aventuras – em vez de produtos – pode levar a uma vida mais feliz
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
Carro com cheiro de novo, sapatos e roupas da última coleção ou a caríssima luminária criada por seu designer preferido. Comprar o que desejamos é um dos caminhos mais fáceis – e talvez enganosos – para a felicidade. Por isso o mundo em que vivemos é muitas vezes descrito como sociedade do consumo. Todos o praticam desenfreadamente. Comprar um objeto, um doce, um livro ativa em nosso cérebro mecanismos químicos de recompensa. Dá prazer. Leva a pessoa a pensar: “Eu sou alguém que sabe se vestir”. Ou ler. Ou comer. O problema é que a felicidade do consumo se dissipa rapidamente. Muitas vezes, antes mesmo da chegada da fatura do cartão.
A tendência é que busquemos repor o prazer da compra com outra compra, num mecanismo similar ao do vício. Ele ganhou até um nome, cunhado por dois psicólogos da Universidade Yale em 1971: a esteira hedonista (leia adiante). Há, no entanto, uma solução simples para usufruir o prazer e evitar os problemas da dependência: consumir menos – e consumir melhor. Consumir de modo que a sensação de prazer perdure e até mesmo se renove com o passar do tempo. Ou, em outras palavras, consumir experiências, em vez de coisas.
A ciência está do lado de quem compra para viver – e não de quem vive para comprar. De acordo com pesquisas feitas nos últimos anos, investir em experiências aumenta substancialmente as chances de levar uma vida mais feliz, mais plena de sentido e significado. […]
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Considerações do EF: Numa fila de um mercado me deparei com esta capa da Época. Fico pensando nas diversas pessoas, que nos diversos mercados, bancas de jornal, shoppings, livrarias e afins, num súbito relance, possam ter pensado que finalmente seus problemas acabaram e que o sentido da vida e a felicidade existem, são possíveis e o melhor: aceitam cartão de crédito.
É impressionante que apenas na introdução já haja tantos grifos dignos de observações importantes. Fato importante é que, como qualquer divulgação bombástica da mídia atual, sobretudo de revistas semanais de renome, é imprescindível dar ao leitor a justificativa científica para assuntos estritamente filosóficos, existenciais. Apesar de avaliadas mais de 2.000 pessoas, o grande problema é o objeto em estudo [felicidade] e, por consequência, seu método.
Há uma confusão vertiginosa entre prazer e felicidade, e os pesquisadores – e por consequência, os jornalistas – reduzem um tema tão essencial a um objeto de consumo. A confusão entre prazer e felicidade faz com que pensadores milenares sejam enterrados pelo sistema consumista a que somos constantemente expostos. Ao que parece, o que muda é que não mais correremos atrás da Apple ou Mercedes mas, sim, da CVC, do Decolar.com e da SP Restaurante Week.
Definitivamente, nenhum dos pensadores que ousaram refletir sobre um tema tão sério quanto a felicidade, que está diretamente relacionada ao sentido último da vida, ousaram afirmar que meras experiências que geram prazeres momentâneos equiparam-se à felicidade.
Dalai Lama, Aristóteles, Confúcio e outros sempre definiram a felicidade como dependente direta do amor, generosidade e outras virtudes. Aliás, será que essa matéria faria algum sentido 100 anos atrás? Nem mesmo a afirmação de que o consumo gera a felicidade seria levada a sério. Isso demonstra e reforça a crise existencial da sociedade em que vivemos.
Ravi Zacharias, em seu “A Morte da Razão“, pág. 34, é muito feliz em afirmar: “A maior decepção (e o consequente sofrimento) que alguém pode ter é acabar de experimentar aquilo que achava que iria lhe proporcionar o máximo prazer – e isso o deixou deprimido. O prazer sem limites gera uma vida sem propósito. Esse é o verdadeiro sofrimento.”
Triste não? Veja que na introdução da matéria, a luta incessante é pela maior duração desse “sentimento de felicidade” que é nada mais que “prazer”. Mais interessante ainda é que, apesar de a proposta da pesquisa ser insuficiente, a busca é por “uma vida mais feliz, mais plena de sentido e significado”. Qual o significado e sentido em viajar 5 vezes ao ano? Qual o sentido em jantar em 10 restaurantes temáticos por mês? Qual o sentido de viajar e jantar com uma pessoa amada e, no fim, vê-la morrer e se perguntar “pra quê”?
A felicidade vem mediante a contemplação da verdade.
Essas respostas precisam ser completas. Precisam mostrar um motivo, uma razão. “Como é feliz o homem constante no temor do Senhor! Mas quem endurece o coração cairá na desgraça” (Provérbios 28:14).
A aula que Jesus deu sobre felicidade mostra como alcançá-la, e o melhor, por quê alcançá-la. Leia em Mateus 5. [Jônatas Duarte Lima]