Fé racional.
A expressão acima é o ponto de partida para o cristão da atualidade (na verdade, qualquer cidadão do mundo), comprometido com a verdade e com a busca da felicidade plena.
Sem querer entrar nas discussões paralelas (e essenciais), “o que é a verdade”, “o que é a felicidade” e etc., que com certeza serão temas de outros posts, quero pensar um pouco sobre a fé em si.
Infelizmente, muitos ainda confundem fé com fideísmo. Norman Geisler, em Enciclopédia de Apologética, página 349, define:
“O fideísmo religioso afirma que assuntos de fé e crença religiosa não são apoiados pela razão. […] Os fideístas são céticos em relação à natureza da evidência aplicada à crença. Eles acreditam que nenhuma evidência ou argumento se aplica à crença em Deus.”
Tenho certeza que, infelizmente, você já viu/ouviu algo neste sentido. Há nas igrejas, na televisão, nos filmes, na política e até mesmo nos livros. As consequências imediatas do fideísmo são vergonhosas (para os cristãos fiéis, não-fideístas), e ainda podem chegar a níveis horripilantes, dos quais a história testifica (mas sempre houve fiéis).
O mais interessante reside no fato de a Bíblia, livro sagrado dos fiéis e fideístas, não apoiar o fideísmo. Sim; a razão, segundo a Bíblia, é ferramenta indispensável para aquele que busca Deus e sua verdade.
Veja, por exemplo, os seguintes textos:
“[…] ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’.” Mateus 22:37
“[…]Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.” 1 Pedro 3:15
” ‘Venham, vamos refletir juntos‘, diz o Senhor.[…]” Isaías 1:18
Nem mesmo a Bíblia apoia o vazio do “crer pelo crer” dos muitos cristãos fideístas. Em vez disso, fica claro o respaldo e chamado bíblico para o uso da razão como ferramenta para vivermos melhor em sociedade (Mateus 22:37), argumentarmos a favor da fé que professamos como fiéis (1 Pedro 3:15) e que o Deus professado pelos cristãos é um Deus racional, que zela pelo entendimento (Isaías 1:18).
O papel da fé
A razão não pode produzir fé. A razão acompanha, mas não causa a fé (Enciclopédia de Apologética, pág. 341).
Analisemos o texto bíblico de Efésios 2:8 e a citação de Tomás de Aquino (Aquino, Ephesians, 96), em sequência:
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;[…]”
“[…] o conteúdo da fé está acima da razão […] Então, o fato de um homem acreditar não pode surgir nele a não ser que Deus o conceda”
Ainda, segundo Aquino, a razão ou filosofia pode ser usada de três maneiras:
- Aponta os “preâmbulos da fé” (que Deus existe, que somos suas criaturas…);
- Analisa os ensinamentos dos filósofos para revelar conceitos correspondentes na fé cristã;
- Opõe-se a ataques contra a fé a partir da lógica.
Ou seja, há um consenso entre Bíblia e filósofos cristãos-fiéis, antigos e contemporâneos, que a razão é ferramenta fundamental para o entendimento (e descoberta) de grandes verdades, mas a fé é fator determinante e transcende as habilidades humanas.
Uma equação para ajudar
Desenvolvi o seguinte pensamento matemático para sintetizar o escrito acima.
Imagine a seguinte equação matemática:
( X + Y + Z + … ) x F = 100%
Suponhamos que X, Y, Z + … sejam motivos, evidências embasadas na razão para o conhecimento de um tema qualquer. Podemos chamar a lógica de X, as evidências biológicas de Y, as evidências da astronomia de Z e assim por diante.
Agora, imagine que para um determinado tema fundamental, por exemplo “Deus existe?”, fossem adicionadas evidências de diversos campos, com dados, teses, artigos, o máximo de evidências possíveis e encontráveis segundo a inteligência humana. No final da conta, nunca dá igual a 100%.
Para corrigir a conta, mediante a fé, que é dom de Deus e ocorre mediante permissão e aceite do pesquisador, íntegro às evidências encontradas, adicionamos o fator F, multiplicando-o pelas evidências já encontradas.
Este fator F, que é a fé em si, permite a correção da equação e dá segurança ao pensador. Não foi fruto da pesquisa, das evidências, porém é uma correção matemática necessária, indispensável para a equação. Sem ela, as evidências ficam espalhadas no chão, e a conclusão, indeterminada. Logo, dependendo do tema, o fator F pode ser menor ou maior, mas ainda é um fator. O restante da equação sempre dependerá da disposição do pensador/matemático em buscar os dados/evidências para a conta.
Com certeza irei postar mais sobre o assunto FÉ. Mas para finalizar por hoje, fico com o pensamento do filósofo Ravi Zacharias, no livro A Morte da Razão, página 64:
“A visão de mundo da fé cristã é bem simples. Deus pôs neste mundo o suficiente para tornar a fé nele uma coisa bem razoável. Mas, deixou de fora o suficiente a fim de que viver tão somente pela razão pura fosse impossível.”
Jônatas Duarte Lima
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