William Lane Craig já é bem conhecido das comunidades cristã e ateísta. E em “Apologética para Questões Difíceis da Vida” (Hard Questions, Real Answers) entende-se o porquê.
A proposta em “Apologética…” é, ‘tão somente’, responder às questões mais espinhosas acerca da fé e estilo de vida cristão de maneira lógica e concisa. Nesta empreitada, Craig escolhe não menos do que seis temas que, de tempos em tempos (e até mais do que gostaríamos), cristãos e não-cristãos são obrigados a enfrentar: dúvida, oração não respondida, fracasso, o sofrimento e o mal, aborto e homossexualidade.
Antes, porém, Craig faz uma introdução crítica quanto ao real comprometimento da nossa sociedade [pós-cristã, pós-moderna] com o conhecimento da verdade, sobretudo à formação de cristãos intelectualmente comprometidos. Simplesmente brilhante. Em Introdução: estagnação Intelectual, ele cita:
É parte da tarefa mais ampla dos estudiosos cristãos ajudar a criar e manter um ambiente cultural no qual o evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectual plausível para homens e mulheres pensantes. Portanto, a igreja tem um papel vital em formar estudiosos cristãos que ajudarão a criar um lugar para ideias cristãs na universidade. O cristão em geral não percebe que há uma guerra intelectual acontecendo nas universidades, nas revistas especializadas e nas sociedades acadêmicas.
A introdução (que toma quase 20% do livro) é, além de um banho de água fria nos cristãos fideístas e uma luz de emergência para a nossa geração, uma sábia maneira de introduzir a real possibilidade de obter-se respostas racionais e plausíveis para as questões difíceis da vida, utilizando-se da filosofia e lógica corretas como base intelectual suficiente; a teologia, em si, serve como confirmação e tem um caráter conclusivo [espiritual] indispensável.
A fé cristã não é uma fé apática, uma fé de cérebros mortos, mas uma fé viva, inquiridora. Como Anselmo afirmou, a nossa fé é uma fé que busca entendimento.
Questões difíceis… respondidas?
É evidente que responder “por que o aborto é errado” ou “por que o homossexualismo é errado” utilizando [apenas] a Bíblia em nossos dias é altamente ineficaz. Craig sabe bem disso e, de imediato, trata sobre o problema da dúvida. Nota-se, na sequência, que a escolha da dúvida como início foi acertadíssima. Os capítulos sobre oração não respondida e fracasso, acredito, têm um apelo especial aos cristãos [de longa data]. Diferentemente, à partir daí o cenário muda: o sofrimento e o mal, aborto e homossexualidade são, sem dúvida, as questões morais mais fortemente atacadas por ateus para refutar a existência de um Deus (clique aqui, aqui e aqui). Entretanto, por exemplo, quando argumentos pró-aborto e pró-vida são comparados sob a luz da filosofia e ciência, fica muito difícil sustentar o apoio a tal façanha. Longe de resumir a maestria dos argumentos apresentados, coloco aqui um pequeno trecho da pág. 133:
[…] em tudo isso, não apelei em ponto algum para a Bíblia. A razão é porque, contrário à impressão popular, o aborto não é uma questão religiosa. A primeira questão que levantamos é filosófica: os seres humanos possuem algum valor moral intrínseco? A segunda questão é científica e médica: o feto em desenvolvimento é um ser humano?
Muito poderia eu aqui apresentar acerca das respostas do Dr. Craig sobre as “questões difíceis da vida”, mas receio que apenas citações ou resumos no corpo desta resenha apenas serviriam para ferir a continuidade dos argumentos como estão apresentados na obra, ou apenas apresentar spoilers indesejados ao futuro leitor.
Assim, registro aqui apenas a evidente necessidade das comunidades cristã e não-cristã em abrirem-se à leitura de obras como esta, que tratam com seriedade e coragem de perguntas mais atuais do que nunca. Quão diferente seria a qualidade dos argumentos [ou até a inexistência de alguns deles] apresentados por intelectuais e governantes mal informados a que somos “obrigados” a aturar por aí.
Jônatas Duarte Lima
Ficha Técnica
Apologética para Questões Difíceis da Vida, William Lane Craig
Ano: 2010
Editora: Vida Nova
Páginas: 192
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Olá Jônatas! Eu achei sua resenha sensacional! parabéns! Eu acabei de ler esse livro, vou “mastigar” um pouco mais para assimilar bem e logo pretendo escrever uma resenha também para compartilhar algumas dificuldades que tive com alguns pontos defendidos pelo Dr. Craig! Claro, antes disso deixarei claro que de uma maneira geral o livro é excelente, um dos melhores de apologética que já li! Dr. Craig é fantástico! Graças a Deus!
Os pontos que desejo tratar são pequenos em face das excelentes refutações que o Dr. Craig apresenta aos “adversários”, mas pra mim são conflitantes com uma visão mais apurada da soteriologia bíblica. Este ponto é acerca da questão da liberdade. A liberdade como colocada pelo Dr. Craig me pareceu exagerada, dando ao homem inclusive poder para frustrar os planos de Deus resistindo-o enquanto ele assiste sua tentativa de intervir com graça indo por água abaixo. O sangue de Cristo nesse sentido foi vertido em vão porque alguém por quem ele morreu o rejeitou! Isso é inadmissível! Lembre-se “nenhuma das MINHAS ovelhas poderá ser arrebatada de minhas mãos”. E quando ela se perde, ele vai busca-la onde quer que esteja e traz nos ombros. Essas ovelhas que frustram seu pastor… Isso eu rejeito e me senti triste ao ler que um homem tão erudito possa ter uma visão soteriológica tão fraca. Além disso, ele diz que crer que Deus não salva alguém de outra nação que nunca ouviu o evangelho tornaria Deus “culpado”. Ora? O que é isso?! Com que base afirmamos isso? Jn 2:9 diz que ao SENHOR pertence a salvação. Apocalipse diz o mesmo. O apostolo Paulo enfaticamente diz “Quem é tu oh homem para discutir com o Oleiro que fez o vaso? Deus dá salvação a quem quer e quando ele nega essa graça – seja por qualquer motivo – Deus permanece justo e nós culpados!
O outro ponto em que eu achei problemas foi quanto à questão de que Deus não pode- segundo dr. Craig – criar um mundo livre e que ao mesmo tempo ele possa fazer com que as pessoas façam algo. Ele cita como exemplo Deus criar um mundo onde só existem seres livres e todos sejam bons. Bem, eu sei que epistemologicamente a afirmação está certa, mas para mim há dificuldade de lidar é com a premissa. Ele mesmo diz noutro lugar que “Deus não pode criar impossibilidades lógicas” e diz que “Certas coisas estão fora do poder de Deus”. Eu achei isso perigosíssimo e pouco explorado (até pela proposta do livro)!
Pois bem meu caro Jônatas, assim que minha resenha estiver pronta pretendo comentar aqui novamente com o link e gostaria de um comentário seu!
Novamente, parabéns!
Diego Montenegro.
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Caro Diego,
Muito obrigado pelo comentário. Minha limitação de tempo não permitiu que respondesse antes, desculpe. Agradeço a visita e leitura, e fico no aguardo o link da sua resenha.
Com relação à discussão teológica muito bem proposta por você acima, acredito que é matéria para uma conversa mais completa por e-mail; o que acha? Caso esteja disposto, convido-o a enviar um e-mail (link “contato”, ao lado) para que tenhamos esse saudável debate.
Um grande abraço e ótima semana,
Jônatas.
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Claro, será um prazer! segue meu e-mail: diegomonergist@outlook.com
A propósito, estou começando um blog com um amigo, mas estamos longe do patamar do seu blog rsrs enfim, se quiser dar uma olhadinha:
http://oracaoelabuta.blogspot.com
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Olá Diego,
Legal, vou acessar.
Abraço.
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